temperança.
- Acalme-se, cara. Vamos esperar ele sair de lá. Ele merece um café da manhã decente. Nós teremos a nossa hora.
Queimava por dentro de tanta ansiedade. As gotas de suor desciam em um rapell imaginário pela sua face enrugada – não pela idade, mas pelas desventuras capciosas da vida. Os dedos tamborilavam um samba da velha guarda no volante e a luz traseira do Del Rey 86 dava indícios de um nervosismo insistente com as luzes do freio sendo emitidas como vaga-lumes excitados.
- Pare de pisar nos freios! Está chamando atenção demais e agindo feito um idiota. Eu vou até a banca de jornais ali na frente para tentar disfarçar; e você, fique aqui e me espere. – Disse Artigas enquanto saia do carro. Olhou ao redor e partiu em direção à banca.
A indolência de Artigas era plena e necessária. Aproveitava-se dela de uma forma positiva e inteligente – por mais que a sociedade fizesse questão de subjugá-lo como: mão de obra barata e escrava, Artigas possuía um potencial único que, devido à falta de possibilidades pós-escola, não pôde aproveitar. Fazia da paciência muito mais do que uma virtude budista seminal, tratava-a como uma peça chave em situações que demandavam uma espreita precisa e condicionada ao sucesso de qualquer tarefa ou objetivo.
O mouro não gostava dessa situação de subordinação. Ele era o chefe da situação e estava perdendo aos poucos o respeito que tinha. Ele era a experiência. Ademais, quem realizou o roubo dos correios, e do banco do centro com outros comparsas? E o que Artigas sabia de roubos, furtos ou qualquer operação ilegal? - Pro diabo com sua babaquice. - disse rangendo os dentes.
Esperou Artigas se afastar, observou-o de rabo de olho e pensou em fazer algo que o tirasse daquele cárcere precoce. Destrancou a porta e levou, calmamente, a mão esquerda à maçaneta interna. Exatamente no momento em que Santiago passava sorrateiro pelo beco que dava na porta dos fundos do bistrô.
Consórcio itaú